Quis o destino que Ronaldinho (prefiro chamá-lo assim, como era nos tempos de Cruzeiro) anunciasse sua retirada dos campos de futebol justamente no dia em que o Mundo (com exceção do Brasil) comemora o Valentine’s Day, que é como um “Dia dos Namorados” estendido também aos amigos.
Hoje é dia de dar presente à quem se quer bem e a bola foi pega de surpresa, pois um de seus maiores amantes passará a não tocar mais nela, da maneira com que ela gosta de ser movida.
O saudoso Ênio Andrade, então técnico do Cruzeiro, quando lhe perguntaram o que ele achava do Ronaldinho (que já no início de sua carreira tinha marcado 49 gols em 50 jogos, marca esta somente superada pelo Rei) disse, com aquela tranquilidade:
“- A bola gosta dele.”
Ênio Andrade confirmava nesta frase o que seria uma profecia: a bola já tinha escolhido o Ronaldinho, como escolhera – para ficar apenas com alguns exemplos brasileiros – Garrincha, Tostão, Rivelino, Gerson, Zico, Romário e, mais recentemente, Paulo Henrique Ganso. Deixei o Rei Pelé de fora desta lista, porque – como diz o Pepe – Pelé é extraterrestre.
Um jogador que foi a quatro Copas do Mundo, Campeão em duas, escolhido em três temporadas o Melhor do Mundo e detentor do título de Maior Artilheiro de Todas as Copas não poderia mesmo ter tido outra denominação, senão O Fenômeno. Isto sem falar nas duas contusões gravíssimas (primeiro na Inter, depois no Milan), que ele superou com uma força de vontade que eu só tinha visto antes com o Zico. São casos de amor (verdadeiro) com a bola.
Por tudo que Ronaldinho representou, simbolizou e iconizou (existe este verbo?) não somente para o Brasil e os brasileiros, mas para o Mundo todo, esta História poderia ter sido diferente. Falo da Final da Copa de 98 e da convocação para a Copa de 2006. Não. Ronaldinho não merecia aquilo. Para o bem do Futebol e do próprio Ronaldinho, ele não deveria ter sido escalado para aquela final contra a França, nem deveria ter sido convocado para a Seleção com mais de 10 quilos (falam que eram 14!) acima do peso. Eu sei que – lá no fundo – todo jogador brasileiro é aquele menino peladeiro que não quer ficar de fora, nem machucado. Mas, o Ronaldinho de 98 e de 2006 não era somente aquele menino que ele (até hoje) tentou trazer dentro dele. Alí era O Fenômeno e os interesses financeiros (que passam longe da alma do menino) não poderiam jogar o nosso Ronaldinho aos leões, para os fins de marketing e imagem. Não se faz isto com um jogador da categoria e da importância do Ronaldinho. Nestes dois episódios, começaram a matar um pouco da alma do menino, que está – também – dentro de nós, torcedores. Quem ama o Futebol e acompanhou o Ronaldinho desde o Cruzeiro, vibrou com O Fenômeno, sabendo que – no fundo – estava lá o Ronaldinho, levando para o Mundo o menino que todos nós temos aqui dentro.
Quem me conhece, quem é mais próximo de mim, sabe que desde 1990 eu deixei de torcer para a Seleção Brasileira. Sinceramente, apesar de que o Romário ganhou aquela Copa de 94 “sozinho” (tudo bem, tivemos ainda aquele passe do Bebeto), aquele título foi um desserviço ao Futebol, pois elevou um Parreira a um patamar em que ele nunca pertenceu, trouxe de volta o Gagallo para 98 (que nós tivemos que engolir) e, se já era pouco, a “sem-noçãozisse” (esta eu inventei, agora!) chegou a tanto que “rendeu” – na última Copa de 2010 – o posto de técnico (?) ao Dunga, aquele mesmo da “Era Dunga”. Pois bem, naquela Copa de 94, a única vez que me levantei da poltrona, foi na prorrogação da Final, quando eu pensava que o Ronaldinho iria entrar e marcar o gol da vitória. Naquela época eu já torcia para o Ronaldinho. Frustração: colocaram o Viola.
Quando Ronaldinho jogava pelo Barcelona e pela Inter, meus Domingos eram na casa de meus pais, junto com Meu Pai assistindo o Ronaldinho jogar. Minha Mãe vinha para a sala de TV trazer uns aperitivos, para a gente não ficar com a barriga vazia, pois o almoço ficava sempre para “depois do Ronaldinho”.
E, em 2002, também não torci para a Seleção Brasileira, mas quando a bola ia na direção do Ronaldinho, eu já estava de pé. Aquela taça que o Cafu levantou, para mim, era só Ronaldinho.
Eis que, quando todos davam a carreira de Ronaldinho encerrada, o Corinthians fez a Maior Contratação da História do Futebol Brasileiro. Era 2008. Foi o ano em que se juntaram dois Fenômenos: Ele e “o bando de loucos”. Foi o único ano em que a Série B foi mais importante que a Série A. Naquele ano, o Corinthians foi Campeão da Série B; em 2009, Campeão Paulista (com direito aquele “gol de placa” dele contra o Santos lá na Vila Belmiro) e Campeão da Copa do Brasil; em 2010, terceiro lugar na Serie A.
Ronaldinho ainda queria ser Campeão da Libertadores, para retribuir ao “bando de loucos”. Não deu. Faz parte do Futebol.
Ronaldinho disse, ao justificar sua retirada:
“- Perdi para o meu corpo.”
“- Sinto dor até para subir uma escada, e minha casa não tem elevador.”
Então, o dia tinha que ser mesmo este. Ironicamente, a bola recebeu um presente amargo, exatamente no dia de São Valentim.
Fico com os dizeres nas costas da camisa que ele recebeu do Presidente do Corinthians:
“#PARA SEMPRE 9 FENÔMENO”
É exatamente isto: quem parou foi o Sr. Ronaldo Luís Nazário de Lima.
E aquele menino Ronaldinho não para nunca aqui dentro das minhas quatro linhas, que demarcam, no meu peito e na minha memória, a minha paixão pelo Futebol.
AL-Braços
AL-Chaer